A probabilidade de desenvolver a doença de Lyme depende da genética

A doença de Lyme é a doença transmitida por carrapatos mais comum na Alemanha. Ainda não se sabe ao certo se uma predisposição genética específica desempenha um papel no desenvolvimento da doença e quais processos imunológicos no corpo estão envolvidos.

Uma equipe de pesquisa do Centro de Medicina de Infecção Individualizada (CiiM), uma instituição conjunta do Centro Helmholtz de Pesquisa de Infecção (HZI) e da Escola Médica de Hannover (MHH), em colaboração com o Hospital Universitário Radboud e o Centro Médico Universitário de Amsterdã (ambos na Holanda), descobriu agora a variante genética responsável e os parâmetros imunológicos envolvidos.

Se o carrapato estiver infectado com o patógeno Borrelia burgdorferi sl (sensu lato = em sentido amplo), essa bactéria pode ser transmitida aos humanos pela picada do carrapato e causar doenças. Vários órgãos podem ser afetados: pele, sistema nervoso ou articulações.

"A infecção por Borrelia nem sempre leva à doença e, no caso da doença de Lyme, geralmente pode ser tratada com sucesso com antibióticos. No entanto, como nossos parceiros colaboradores descobriram, alguns indivíduos afetados desenvolvem sintomas persistentes, como fadiga, comprometimento cognitivo ou dor, apesar do tratamento com antibióticos", afirma o Professor Yang Lee, Diretor do CiiM e Chefe da Unidade de Bioinformática para Medicina Personalizada do HZI.

"Para encontrar pontos de partida adicionais para o desenvolvimento de terapias eficazes para o tratamento da doença de Lyme no futuro, é importante entender melhor os mecanismos genéticos e imunológicos responsáveis pelo desenvolvimento da doença."

Nesse sentido, a equipe de pesquisa analisou os padrões genéticos de mais de 1.000 pacientes com doença de Lyme e os comparou com os padrões genéticos de pessoas não infectadas. "O objetivo era identificar variantes genéticas específicas diretamente associadas à doença", explica Javier Botey-Bataller, pesquisador do CiiM e um dos primeiros autores dos dois estudos.

"Na verdade, identificamos uma variante genética específica e até então desconhecida em pacientes com doença de Lyme."

Identificação da variante rs1061632 associada à suscetibilidade à LB. Visão geral da coorte. 1.107 amostras de DNA de pacientes com LB estavam disponíveis para verificação de qualidade e imputação, restando uma coorte de descoberta (n = 506) e uma coorte de validação (n = 557). Gráfico B de Manhattan das variantes significativas em todo o genoma associadas à suscetibilidade à LB na coorte de descoberta. Crédito: BMC Infectious Diseases (2024). DOI: 10.1186/s12879-024-09217-z

A equipe de pesquisa conduziu vários testes de biologia celular e imunologia para descobrir quais consequências fisiológicas específicas essa predisposição genética tem.

"Por um lado, conseguimos demonstrar que os processos anti-inflamatórios no corpo são reduzidos na presença dessa variante genética. Isso significa que a inflamação e os sintomas da doença de Lyme podem durar mais tempo", explica Lee.

Os pesquisadores também descobriram que pacientes com essa variante genética tinham níveis significativamente reduzidos de anticorpos contra a Borrelia, sugerindo que, como resultado, a bactéria não pode ser atacada de forma eficaz, fazendo com que a doença dure mais.

"Também conseguimos identificar 34 loci genéticos diferentes que estão envolvidos na regulação da resposta imune de pacientes com doença de Lyme por meio de mediadores como citocinas, e que também podem desempenhar um papel importante em outras doenças imunomediadas, como alergias", diz Boteil-Bataille.

No estudo, todos os genes do genoma humano são registrados no que chamamos de mapa genético. Cada gene tem sua própria posição única, chamada de locus gênico. "Os resultados do nosso estudo mostram claramente como a resposta imune é determinada pela genética", diz Lee.

"Como os resultados do nosso estudo são baseados em um banco de dados extremamente amplo devido à grande coorte, eles fornecem uma excelente base para futuras abordagens de pesquisa, por exemplo, para estudar o impacto de diferentes variantes dos genes envolvidos na gravidade da doença de Lyme."

A incidência da doença de Lyme aumentou no Hemisfério Norte nos últimos anos. A equipe de pesquisa sugere que novos aumentos podem ser esperados no futuro, mesmo com as mudanças climáticas. Isso ocorre porque temperaturas geralmente mais amenas podem prolongar a temporada de carrapatos e aumentar sua distribuição.

O resultado: mais picadas de carrapatos e, portanto, mais casos possíveis de doença de Lyme. "Nossas descobertas fornecem insights importantes sobre os processos genéticos e imunológicos que contribuem para o desenvolvimento da doença de Lyme. Esperamos abrir caminho para o desenvolvimento de tratamentos eficazes para portadores da doença de Lyme com sintomas de longa duração", afirma Lee.

Os pesquisadores publicaram suas descobertas em dois estudos, um na revista Nature Communications e o outro na BMC Infectious Diseases.