Mais de 20 000 voluntários juntaram-se aos esforços para acelerar o desenvolvimento de medicamentos contra a demência

Uma equipe de pesquisa liderada pela Universidade de Cambridge recrutou mais de 20.000 voluntários para um recurso que visa acelerar o desenvolvimento de medicamentos para demência, tão necessários. O recurso permitirá que cientistas de universidades e da indústria recrutem pessoas saudáveis para ensaios clínicos que testarão se novos medicamentos podem retardar o declínio de várias funções cerebrais, incluindo a memória, e retardar o início da demência.

Usando esse recurso, cientistas já demonstraram pela primeira vez que dois mecanismos importantes no corpo – inflamação e metabolismo – desempenham um papel na deterioração da função cerebral com a idade.

Estima-se que, até 2050, 139 milhões de pessoas em todo o mundo viverão com demência. No Reino Unido, a Primeira-Ministra lançou a Missão Dame Barbara Windsor para a Demência em 2022, parte do compromisso do governo de dobrar o financiamento para a pesquisa sobre demência.

Embora tenha havido progresso nos últimos anos no desenvolvimento de medicamentos que retardam a progressão da doença, os dois principais tratamentos têm apenas efeitos modestos, e a grande maioria das novas abordagens que funcionam em estudos com animais falham em ensaios clínicos com pacientes.

Uma explicação para essas falhas é que medicamentos estão sendo testados em pessoas que já começaram a perder a memória – momento em que pode ser tarde demais para interromper ou reverter a doença. Portanto, há uma necessidade urgente de entender o que está acontecendo antes que as pessoas desenvolvam sintomas nos estágios iniciais da doença e de testar novos tratamentos antes que as pessoas procurem seus médicos com problemas cognitivos. Essa abordagem requer um grande grupo de participantes dispostos a ser recrutados para estudos clínicos e experimentais sobre declínio cognitivo.

Em um artigo publicado na revista Nature Medicine, cientistas liderados pela Universidade de Cambridge, em parceria com a Sociedade de Alzheimer, relatam como recrutaram 21.000 pessoas com idades entre 17 e 85 anos para participar do grupo Genes and Cognition no BioResource do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa (NIHR).

O NIHR BioResource foi criado em 2007 para recrutar voluntários interessados em medicina experimental e ensaios clínicos em todas as áreas da medicina. Cerca de metade dos participantes é recrutada em coortes de doenças específicas, mas a outra metade é selecionada da população em geral, e informações detalhadas sobre sua genética e aptidão são coletadas. Todos concordaram em ser contatados sobre pesquisas futuras.

Para a coorte Genes e Cognição, os pesquisadores utilizaram uma combinação de testes cognitivos e dados genéticos, juntamente com outras informações de saúde e demográficas, para conduzir o primeiro estudo em larga escala sobre mudança cognitiva. Isso permitirá que a equipe recrute participantes para pesquisas sobre declínio cognitivo e novos tratamentos para a condição.

Por exemplo, uma empresa farmacêutica com um novo medicamento promissor para retardar o declínio cognitivo poderia recrutar pessoas por meio do BioResource com base em seus perfis e convidá-las a participar de um ensaio clínico. Ter uma medição de referência do desempenho cognitivo permitiria aos cientistas observar se o medicamento retarda o declínio cognitivo esperado.

O professor Patrick Chinnery, do Departamento de Neurociência Clínica da Universidade de Cambridge e copresidente do NIHR BioResource, que liderou o projeto, afirmou: "Criamos um recurso único no mundo, recrutando pessoas que ainda não apresentam sinais de demência, em vez daquelas que já apresentam sintomas. Isso nos permitirá associar pessoas a estudos específicos e acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos, tão necessários para tratar a demência."

Sabemos que nossa função cognitiva declina com o tempo, então projetamos a trajetória prevista de diferentes funções cognitivas ao longo da vida de nossos voluntários com base em seu risco genético. Também perguntamos: 'Quais são os mecanismos genéticos que nos predispõem ao declínio cognitivo lento ou rápido com a idade?'

Com base nessa pesquisa, a equipe identificou dois mecanismos que parecem impactar a cognição com a idade e podem servir como alvos potenciais para retardar o declínio cognitivo e, portanto, retardar o início da demência. O primeiro desses mecanismos é a inflamação, na qual células imunes específicas do cérebro e do sistema nervoso central – conhecidas como microglia – causam uma deterioração gradual do cérebro e, portanto, de sua capacidade de desempenhar funções cognitivas essenciais. O segundo mecanismo envolve o metabolismo – especificamente, como os carboidratos são decompostos no cérebro para liberar energia.

O Dr. Richard Oakley, vice-diretor de pesquisa e inovação da Alzheimer's Society, disse: "Esta pesquisa empolgante, financiada pela Alzheimer's Society, é um passo importante para entender melhor como as doenças que causam demência começam e ajudará a desenvolver novos tratamentos que visam os estágios iniciais dessas doenças.

“Dados de mais de 20.000 voluntários nos ajudam a entender melhor a relação entre os genes dos participantes e o declínio cognitivo e permitem análises mais inovadoras no futuro.

Uma em cada três pessoas nascidas no Reino Unido hoje desenvolverá demência ao longo da vida, mas a pesquisa vencerá a demência. Precisamos tornar isso realidade o mais rápido possível por meio de mais financiamento, parcerias e envolvimento de pessoas na pesquisa sobre demência.