Os iogurtes probióticos não têm um efeito positivo na microflora intestinal

Se as bactérias contidas nos iogurtes têm um efeito positivo na microflora intestinal humana, elas o fazem de uma forma incompreensível para a ciência. Pesquisadores não conseguiram detectar a menor alteração na microflora intestinal humana após o consumo sistemático de iogurtes probióticos.

E como a publicidade é feita! "As bactérias contidas no produto ajudarão a restaurar a microflora e a normalizar o funcionamento dos intestinos"... A ironia é que, se as bactérias do iogurte realmente ajudam, é de uma forma desconhecida, sobre a qual a ciência nada sabe. Microbiologistas da Universidade de Washington em St. Louis (EUA) chegaram à conclusão de que as bactérias presentes nos iogurtes não têm nenhum efeito sobre a microflora do trato gastrointestinal e certamente não são capazes de substituí-la.

Os pesquisadores recrutaram sete pares de gêmeos idênticos para o estudo. Um gêmeo de cada par, mantendo a mesma dieta, consumia regularmente uma marca popular de iogurte contendo cinco cepas bacterianas. Como os gêmeos eram geneticamente idênticos, a influência de outros fatores além da dieta no microbioma intestinal foi minimizada.

Após algum tempo, microbiologistas realizaram uma análise de DNA da microflora intestinal de voluntários. Descobriu-se que as bactérias lácticas do iogurte não afetaram a composição de espécies das bactérias "nativas". Jeffrey Gordon, gerente do projeto, disse não ter ficado surpreso com os resultados do estudo. O intestino abriga dezenas de trilhões de bactérias, e os vários bilhões que chegam com o iogurte dificilmente afetam de alguma forma o sistema estabelecido da microflora intestinal humana.

Os resultados foram confirmados em experimentos com animais. Os cientistas obtiveram camundongos gnotobióticos, privados de sua própria microflora, e introduziram 15 espécies de microrganismos que vivem em humanos em seus intestinos. Em seguida, os camundongos foram novamente alimentados com bactérias do iogurte. E, novamente, as bactérias do iogurte não tiveram efeito na composição da microflora intestinal estabelecida dos animais. No entanto, como os cientistas escrevem na revista Science Translational Medicine, eles foram capazes de detectar mudanças na atividade genética das bactérias residentes: a atividade dos genes responsáveis pelo processamento de carboidratos aumentou. O mesmo aumento de atividade foi observado após a entrada no intestino de uma das bactérias "externas", Bifidobacterium animalis lactis.

Recentemente, fabricantes que se dedicam à criação e promoção de produtos "bioativos" têm sido cada vez mais criticados, exigindo a confirmação da utilidade e da "bioatividade" dos iogurtes. Mas o fato é que é bastante difícil selecionar um sistema experimental adequado que avalie seu efeito na mesma microflora. Animais gnotobiontes poderiam ser úteis nessa questão, já que, nesse caso, todos os fatores que afetam sua microflora estão sob o controle do pesquisador. Mas, como você pode ver, é preciso estar preparado para o fato de que nem todos os iogurtes serão igualmente úteis.

Até o momento, as objeções aos resultados se resumem ao fato de que poucas pessoas participaram do estudo e não foi realizada uma análise suficientemente detalhada do DNA bacteriano. Quanto aos experimentos com animais, eles apontam que os intestinos dos camundongos ainda estão adaptados à habitação de sua própria microflora, e não imposta (humana). É possível que as bactérias do iogurte tenham um efeito positivo no bem-estar humano, mas a ciência nada sabe sobre isso.