Os cientistas descobriram como a marijuana afecta o cérebro

Pesquisas sobre os efeitos da maconha no cérebro levaram a uma descoberta inesperada: descobriu-se que as células de serviço do cérebro, cuja função antes era considerada apenas dar suporte e nutrir os neurônios, podem controlar ativamente o estado dos contatos interneuronais e influenciar o funcionamento dos circuitos neurais.

A maconha ajudou cientistas a reconsiderar os princípios da arquitetura celular do cérebro. Descobriu-se que as células auxiliares do tecido nervoso, necessárias para a nutrição e o suporte dos neurônios, podem interferir ativamente no funcionamento das conexões interneuronais. Essas células auxiliares são chamadas de astrócitos; ninguém suspeitava que controlassem os circuitos neurais.

Pesquisadores de centros de pesquisa no Canadá, China, França, Estados Unidos e Espanha estudaram os efeitos do tetrahidrocanabinol, o ingrediente ativo da maconha, na memória de curto prazo. Sabe-se que fumar maconha tem um efeito negativo nesse tipo de memória, mas como a droga faz isso? Usando eletrodos implantados no cérebro de um rato, cientistas descobriram que o tetrahidrocanabinol enfraquece as sinapses no hipocampo, a parte do cérebro responsável pela memória. Este era um resultado esperado: sabe-se que os processos de aprendizagem e memorização são acompanhados pela formação de novas conexões interneuronais no cérebro.

Os pesquisadores então decidiram analisar o efeito da maconha em nível molecular — no nível dos receptores celulares. Na superfície dos neurônios, existem receptores especiais para o tetrahidronabinol, chamados CB1. Os cientistas obtiveram camundongos geneticamente modificados nos quais os neurônios do hipocampo pararam de sintetizar esse receptor. Em alguns animais, a síntese de CB1 foi desativada em neurônios que usam dopamina como neurotransmissor, em outros, em neurônios que usam ácido gama-aminobutírico. Os autores do trabalho acreditavam que, sem os receptores apropriados, a maconha deixaria de influenciar as sinapses, e o mecanismo molecular de seu efeito na memória poderia ser considerado revelado. Camundongos com um gene receptor mutante tiveram que se lembrar da rota no labirinto antes e depois de tomar tetrahidronabinol. Mas mesmo com os receptores desativados, os camundongos ainda se esqueciam da rota que tinham acabado de aprender.

Isso levou os cientistas à ideia de que tudo poderia estar nos mesmos receptores CB1, localizados apenas nas membranas dos astrócitos. Quando esses receptores também foram desativados, a maconha parou de enfraquecer as sinapses no hipocampo e os animais pararam de correr pelo labirinto, como se estivessem lá pela primeira vez na vida. Como os pesquisadores escrevem em um artigo publicado na revista Cell, a ativação dos receptores de maconha nos astrócitos levou ao fato de as conexões interneuronais perderem receptores para o ácido glutâmico, outro neurotransmissor. E isso, por sua vez, levou ao enfraquecimento da conexão sináptica.

O tetrahidrocanabinol tem um efeito semelhante na memória de ratos e humanos; portanto, apesar de todas as diferenças na estrutura do sistema nervoso, neste caso estamos falando, muito provavelmente, dos mesmos processos. Mas o principal resultado aqui não é nem mesmo o esclarecimento dos mecanismos do efeito da maconha na memória, mas a descoberta de novas funções nos astrócitos. Aparentemente, as células da neuróglia podem ser mais do que apenas um serviço de suporte: elas são capazes de participar ativamente do gerenciamento dos circuitos neurais, embora elas próprias não conduzam impulsos nervosos. No entanto, os autores também falam sobre a possível aplicação prática dos resultados obtidos. Sabe-se que a maconha é frequentemente usada para fins medicinais para aliviar a dor e o estresse; portanto, sabendo exatamente como ela funciona, é possível criar análogos não menos eficazes, mas menos ambíguos.

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