Dieta Materna e o Microbioma: Como os Padrões Alimentares Podem Influenciar o Neurodesenvolvimento Infantil

Um novo artigo de revisão publicado na Frontiers in Cellular Neuroscience examina como a dieta de uma mãe altera suas bactérias intestinais — e, por meio delas, pode influenciar o risco de transtorno do espectro autista (TEA) em seu filho. Os autores analisam os "culpados populares" — excesso de açúcar, sal e gordura, álcool, pouca fibra e alimentos ultraprocessados — e explicam as cadeias de eventos que essas dietas desencadeiam na microbiota e no sistema imunológico, e então no cérebro em desenvolvimento. Este não é um experimento humano, mas uma análise de dados cumulativos (grande parte deles de modelos animais); portanto, trata-se de associações e mecanismos plausíveis, não de evidências diretas de causalidade.

O que exatamente foi desmontado?

• #Açúcar, #sal, #gordura: essas dietas esgotam a diversidade microbiana, aumentam a permeabilidade intestinal e promovem inflamação crônica. Em experimentos, grupos bacterianos importantes mudam (por exemplo, Lactobacillus/Bifidobacterium cai), e os ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) se deslocam, o que afeta a regulação imunológica.
• #Álcool: Distorce a composição da microbiota, aumenta os vazamentos de barreira e pode alterar a composição do leite materno — outra maneira de afetar o microbioma do bebê.
• #Baixo teor de fibras: priva as bactérias do “combustível” para sintetizar ácidos graxos benéficos (acetato, propionato, butirato), que alimentam as células intestinais, reduzem a inflamação e afetam indiretamente o cérebro.
• #Alimentos ultraprocessados (AUP): uma combinação de ingredientes refinados e aditivos está associada a alterações adversas na microbiota e nos metabólitos; os autores discutem essa dieta como um estressor adicional do eixo intestino-cérebro.

Como isso pode chegar ao cérebro de uma criança?

Os autores traçam várias “pontes” do prato da mãe para o sistema nervoso do feto:

• Eixo intestino-placenta e amamentação. A microbiota materna e seus metabólitos (AGCC, ácidos biliares, etc.) podem influenciar sinais e barreiras inflamatórias e, após o nascimento, podem chegar ao bebê através do leite.
• Ativação imunológica. Disbiose → vazamento de moléculas bacterianas → inflamação sistêmica na mãe. Tal ambiente está associado ao risco de distúrbios do neurodesenvolvimento em modelos.
• Neurotransmissores e seus precursores. Micróbios estão envolvidos no metabolismo do triptofano (serotonina/quinuenina), GABA e glutamato; um desequilíbrio nessas vias é um mecanismo suspeito.
• Metabólitos microbianos. O excesso/deficiência de AGCC e outros compostos pode alterar as respostas imunológicas e neurogliais e, portanto, a "sintonia" dos circuitos cerebrais em desenvolvimento.

O que isso significa na prática (com ressalvas)

Os autores formulam suas recomendações com cautela: durante a gravidez, vale a pena adotar dietas ricas em fibras (vegetais, frutas, leguminosas, grãos integrais), limitar o açúcar adicionado, o sal, as gorduras saturadas e os ácidos graxos livres, e eliminar completamente o álcool. Abordagens direcionadas ao microbioma (prebióticos/probióticos) também são discutidas, mas enfatiza-se a necessidade de ensaios clínicos para entender quem, quando e quais intervenções são realmente benéficas.

"Mas" importantes

• Esta é uma revisão: contém muitos dados de modelos animais e estudos observacionais em humanos. Não comprova causa e efeito, mas resume as associações e mecanismos mais plausíveis. Estudos de coorte de longo prazo e ensaios clínicos randomizados de dietas/probióticos em gestantes são necessários.
• O autismo é uma condição multifatorial: genética, ambiente, infecções, estresse, etc. A nutrição e o microbioma são apenas parte do quadro geral.