O sentimento de bem-estar é moldado por traços de carácter e não por acontecimentos

Embora fatores como ambiente social, renda e saúde influenciem nossos níveis de satisfação com a vida, eles são menos importantes do que se pensava anteriormente, dizem os pesquisadores.

Uma equipe de especialistas usou uma nova abordagem para resolver um antigo mistério psicológico: o quanto nossos sentimentos de satisfação com a vida, em vez de nossas experiências, refletem nossa personalidade.

Estudos anteriores não conseguiram fornecer uma resposta clara porque quase todos eles se basearam em avaliações autorrelatadas das pessoas sobre seus traços de personalidade e satisfação com a vida, dizem os pesquisadores.

Autoavaliações costumam ser tendenciosas, fazendo com que coisas não relacionadas pareçam relacionadas ou obscurecendo conexões existentes, ou ambos, diz a equipe.

O estudo foi conduzido por uma equipe da Faculdade de Filosofia, Psicologia e Ciências da Linguagem da Universidade de Edimburgo e da Universidade de Tartu, na Estônia. Seus resultados foram publicados no periódico Journal of Personality and Social Psychology.

"Acontece que a satisfação das pessoas com a vida depende ainda mais de sua personalidade do que pensávamos", disse a pesquisadora principal Dra. Renee Mottus, da Universidade de Edimburgo.

A personalidade é geralmente estável, formada gradualmente sob a influência de muitas experiências e fatores genéticos. Portanto, quanto mais a satisfação depende da personalidade, menos ela reage como esperado às flutuações da vida.

Para superar as limitações de estudos anteriores, os pesquisadores combinaram duas fontes de informação. Primeiro, pediram a mais de 20.000 pessoas que avaliassem seus traços de personalidade e satisfação com a vida. Além disso, cada participante foi avaliado por alguém que o conhecia bem.

Ao comparar essas duas fontes de informação, os pesquisadores conseguiram identificar onde as duas fontes concordavam, o que lhes permitiu avaliar as associações da satisfação de vida com uma série de traços de personalidade, livres de erros e vieses comuns.

Eles descobriram que os traços de personalidade estavam mais fortemente associados à satisfação com a vida do que pesquisas anteriores haviam sugerido.

Cerca de 80% da variação na satisfação de vida das pessoas pode ser explicada por seus traços de personalidade — quase o dobro do que em estudos anteriores.

Os pesquisadores obtiveram seus dados entrevistando participantes do Biobanco Estoniano, uma coleção de informações de saúde de voluntários de todo o país.

"Em geral, pessoas mais satisfeitas eram mais estáveis emocionalmente, extrovertidas e conscientes", disse o Dr. Mottus. "Mas, mais especificamente, aqueles que estavam satisfeitos com suas vidas se sentiam compreendidos, animados e determinados, enquanto pessoas menos satisfeitas se sentiam invejosas, entediadas, usadas, desamparadas e não reconhecidas."

Os resultados do estudo foram consistentes entre participantes de diferentes nacionalidades, mostrando que as descobertas são verdadeiras para diferentes grupos de pessoas.

A equipe também descobriu que, entre um subconjunto de participantes testados há uma década, as ligações persistiram ao longo do tempo.

Mesmo quando a satisfação aumentou ou diminuiu, ela tendeu a retornar a níveis consistentes com a personalidade geral, concluíram os pesquisadores.

"Isso não significa que as experiências não possam ter um impacto duradouro na satisfação com a vida", explicou o Dr. Mottus. "Mas, quando as experiências realmente importam, elas precisam moldar as pessoas de uma forma muito mais ampla do que apenas torná-las mais ou menos satisfeitas com suas vidas. Isso leva tempo e não acontece com muita frequência."